Não esperava muito, só algumas casas que vi num livro que comprei no Natal. Mas chegámos e foi o deslumbramento: é uma cidade europeia, com praças e ruas e gente que as vive. Uma espécie de oásis de civilização no meio do deserto dos strip malls que corroeram as estradas deste país: macdonalds, pizza hut, wendy's, cidade, wendy's, pizza hut, macdonalds, ad nauseam.
Saímos na Bourbon Street (dos Borbones, os Espanhóis, não do whisky de milho) e é o Inferno: a gente mais feia do mundo miúdas quase adolescentes em roupa interior em frente aos bares de strip, o cheiro a vómito, a esgoto, os néons de dia, a música ao vivo, má e aos berros, a sair de bares uns em frente aos outros e a criar uma cacofonia geral no meio da rua. Saem dois velhotes bem vestidos de um bar, e quando olho trazem duas hand grenades na mão: um copo de plástico que mais parece um enfeite de Natal verde fluorescente, cheio de um veneno alcoólico qualquer.
Depois entramos para comer, no café Napoleão, que supostamente foi feito para retiro do Bonaparte (que nunca o chegou a ver). A comida é decente, barata, mas o melhor é o espaço: tudo meio a cair, mas com um charme que só se vê em revistas, ventoínhas nos tectos, um pátiozinho com flores.
Sábado vamos ver as plantações do Mississipi. Delas não vimos saciados, mas sim da paisagem louca: O Mississipi é um parque de indústria pesada com as formas mais esquizofrénicas, e cargueiros enormes que o sobem e descem. E tudo muito verdejante, apesar dos vapores, fumos e cheiros por toda a parte. No meio disto, 2 ou 3 plantações antigas tentam atrair quem podem, mas só algumas, como a Oak Alley, conseguem ainda encantar.
Domingo de Páscoa: Galatoires, que diziam ser a instituição local para comer. Era como ir a um congresso do PP, mas com gente mais divertida e ventoínhas no tecto. E gente bêbada, que às 11 da manhã já só se pediam bloody marys. Elas com os chapéus largos, tipo rainha de Inglaterra, eles gordos de fato branco ou às riscas de linho (o seersucker). Como se tivessem vindo da plantação, anafados e bem dispostos. O ambiente é de festa, e para congresso do PP em New Orleans relaxado e cómico. O nosso empregado parece o Snoop Dogg, e aponta para um prato gigante que nos traz, cheio de lagostins, camarões em remoulade, e ostras enroladas em bacon e fritas em e ovo e farinha. Sim senhor, no fim estamos os dois magricelas a cair para o lado, e vamos passear na cidade que agora começa a festejar a sério. Com a gay parade de Páscoa, em que homens travestidos de voz grossa atiram colares de contas para a multidão (horas antes tinham sido umas velhinhas a fazê-lo, também de copo na mão).
À noite bebe-se na rua, tal como em qualquer ponto do mundo civilizado Mediterrânico, e a música, para turista ou não, é mesmo boa. Desde os bares na Frenchmen Street, (que é a Williamsburg local, com hipsters de bigodes e bicicletas) até ao Fritzel's, na Bourbon (em que só dentro é que se ouve alguma coisa) e o Preservation Hall, tão podre que mais parece saído da World of Interiors, e em que se pode pedir canções aos músicos! (eles sabem-nas todas).
E as cores das casas? e as lanternas a gás debaixo dos alpendres, e o cheiro a flores misturado com cerveja, e as lojas de tralhas antigas, de absinto, de farturas pequenas chamadas beignets, tudo antigo, tudo inimitável? Enfim, aterrei no sítio errado.
7 de abril de 2010
New Orleans
posto pelo Alexandre às 05:29
Subscrever:
Enviar feedback (Atom)
2 comentários:
que espectáculo de descrição! adorei e contribuíu mais para a minha ideia de New Orleans....que inveja tão grande! Boas viagens...Na América dá mesmo para aplicar o " vá para fora cá dentro"
«Para mais tarde recordar»...
Enviar um comentário